Desastres naturais e a resiliência preventiva
- 09
- Mar
Desastres Naturais e a Necessária Resiliência Preventiva
O trauma psicológico se relaciona entre outros fatores com um "evento surpresa", que em alguns casos, realisticamente poderia ser previsto e, portanto, evitado. Catástrofes naturais como furacões, tsunamis, terremotos, inundações e deslizamentos podem trazer imenso impacto na Saúde Mental de uma comunidade, uma cidade, um estado, ou mesmo de uma nação.
A resiliência neste âmbito, refere-se a capacidade dos indivíduos e correspondentes da sociedades de lidarem assertivamente com o impacto súbito dos desastres naturais para restaurarem o mais rápido possível a Saúde Mental e a vida funcional com qualidade. Portanto, este conceito pode ser compreendido em várias camadas, e cada uma delas, do indivíduo a nação, pode ser preparado para o que esta por vir.
É um erro dedicar atenção aos aprendizados resilientes exclusivamente após eventos estressores com potencial traumático, quando as pessoas se encontram em estado de vulnerabilidade. Um dos fatores decisivos ao desenvolvimento da resiliência está no modo como o indivíduo processa e elabora a experiência, e os aprendizados anteriores fazem boas diferenças...
Tenho orientado em artigos, palestras, sempre que eu passo, e está também é uma oportunidade, sobre a importância do acesso aos mecanismos de resiliência como fatores ao desenvolvimento, a despeito dos eventos traumáticos. Por exemplo, os mesmos principais pilares da linha de pesquisa "Crescimento pós-traumático" podem ser cultivados e incorporados como recursos pessoais que protegem contra a caracterização do trauma psicológico, além de proverem significativa melhor qualidade de vida.
São eles:
- 1) Cultivo e iniciativa de relações interpessoais mais profundas, verdadeiras, e saudáveis;
- 2) Reconhecimento dos próprios talentos, capacidades e forças pessoais a favor do bem-estar;
- 3) Cultivo da solidariedade e da generosidade ao prover auxílio as outras pessoas;
- 4) Abertura para novas experiencias e possibilidades de aprendizados saudáveis diariamente;
- 5) Apreciação singela e valorização da vida ao respirar, acordar, caminhar, etc;
- 6) Busca dos significados e propósitos para a existência, em parte por meio da religiosidade/espiritualidade;
- 7) Consciência e compreensão introjetada de que " ...nada será o bastante, para quem acha pouco o suficiente (Epicuro)". Também por esta razão, 40% dos meus pacientes fazem psicoterapia justamente com o objetivo do autoconhecimento e aquisição das práticas e manejos que favorecem a progressiva melhor qualidade de vida, e como decorrência natural, adquirem uma certa blindagem psicológica que impede um evento estressor se configurar como traumático.
Considerando ainda que ações globais/governamentais devem corrigir equívocos em relação ao deslocamento de responsabilidades às pessoas que atravessam necessidades e ocupam terrenos de risco, assim como investimentos da Saúde Mental e em protocolos de segurança. Por exemplo, as Nações Unidas para Redução de Riscos de Desastres informaram recentemente que menos de 5% de todos os investimentos em mudanças climáticas no mundo vão para a adaptação dos sobreviventes.
É um percentual mínimo, considerando que os mecanismos resilientes previamente adquiridos favorecem a travessia de maneira menso penosa, minimizam o número de indivíduos diagnosticados com Transtorno de Estresse Pós-Traumático e decorrentes graves comorbidades limitantes. Portanto, a melhor compreensão do conceito de resiliência, o aprendizado de mecanismos prévios e subsequentes aos desastres naturais é uma questão que engloba a Saúde Pública, e aguarda urgentes e necessárias providências.
Trabalhos conjuntos exemplares de colegas da Saúde Mental e ações governamentais mostraram resultados significativos. O Japão e a Nova Zelândia, especialmente, são bons exemplos nesse sentido, investiram em estrutura, diretrizes e treinamento de segurança, assim como em tornar os indivíduos e as comunidades antecipadamente fortalecidas para travessias psicologias desafiadoras bem sucedidas.
Enfim, a despeito da natureza do trauma, o mais importante fator de ajuste resiliente é uma percepção saudável de autoeficácia, fundamentada no autoconhecimento e reconhecimento da capacidade própria de enfrentar e superar dificuldades. Todos merecem acesso a esses valiosos saberes!
Dr. Julio Peres
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