Estamos vivendo, infelizmente, um momento singular na história da humanidade. Apesar de outras pandemias terem assolado o planeta, como a gripe espanhola e a peste negra, nenhuma delas foi tão globalizada quando o coronavírus.

Enquanto uma parcela da população vive o luto de planos que não irão mais realizar, a expectativa de crescimento econômico que não irá acontecer como o planejado, uma adaptação express de processos de trabalho e modelos de negócio, e o grande medo da proliferação da doença e suas consequências, faço um convite para que você reflita os efeitos colaterais do momento em que vivemos.

1 – Tecnologia como aliada das empresas. Sabemos que muitas empresas ainda eram geridas de maneira analógica, sem presença digital, com muita papelada, muitas pessoas e muitos processos. Com o isolamento social, quem resistia a experimentar o home office, viu-se obrigado a trabalhar desta forma, vendo que não só é possível produzir, como pode-se fazer isso com menos custo operacional, oferecendo o conforto do lar para o colaborador sem o estresse do trânsito.

Aplicativos para reuniões online, para venda em e-commerce, para desenvolvimento de sites e uma verdadeira enxurrada de conteúdos gratuitos vieram à tona na internet, um prato cheio para quem não tem medo de ser autodidata ou se adaptar às mudanças.

2 – Coloca-se máscara no rosto, mas tira-se a máscara da alma. Se sair na rua não é possível, a única viagem que podemos fazer é para dentro de nós mesmos. A crise revela o nível da nossa inteligência emocional, revela o quão dependentes somos de coisas e de pessoas. Que fique de legado dessa pandemia que a autoconsciência e o desenvolvimento das softskills* serão fundamentais para o novo momento que o mercado vive e viverá pós-corona. O que puder ser automatizado será. Sobrando aos humanos atuar, por ironia, com suas habilidades humanas.

Além de tirarmos a máscara da alma das pessoas, tiramos também as máscaras das empresas. A crise obrigou os negócios a se posicionarem e nesse sentido estamos entendendo as empresas que querem realmente ajudar seu cliente, a comunidade e o seu próprio time. Mais do que nunca, estamos com os dois pés na era do propósito. Não será mais aceitável uma empresa que vende uma imagem estática do seu negócio. Queremos saber os “porquês”, os “comos” e principalmente, “quem” está por trás dos produtos e serviços que consumimos.

3 – Descobrimos o que realmente é prioridade para nós. Comer, beber, dormir, estar seguro são necessidades básicas da pirâmide de necessidades de Maslow. Sabemos que é um modelo que não representa fielmente a priorização de compra das pessoas, mas é fato que, diante do dinheiro como recurso finito, os consumidores passaram a refletir muito mais nas suas escolhas. Ao mesmo tempo em que muitos negócios são afetados negativamente, apontamos para um mercado mais maduro, mais consciente, mas exigente e, sobretudo, mais empático.

4 – Empresas solidárias estão sendo mais notadas. Empresas de todos os portes e segmentos engajam-se em ações para arrecadação de mantimentos ou mesmo modificam a produção para produzir itens que o mundo precisa como máscaras e álcool em gel, por exemplo. A notoriedade que essas ações têm ganhado e a aderência por parte de empresas que são referência no mercado fazem com que mais e mais ações sociais sejam criadas, com o uso de muita criatividade e das mídias sociais como ferramenta de divulgação.

5 – As coisas mudam e nós definimos para onde. A vida é uma constante transformação. Mercados mudam, profissões são extintas e criadas, o comportamento do consumidor muda constantemente. O leme sempre irá apontar para onde estamos de olho em nossa luneta. Por isso, temos uma oportunidade preciosa de apontar empresas para um crescimento sustentável, para melhoria dos processos, para crescimento das pessoas, para o uso consciente do nosso tempo e da natureza. É fundamental que todos assumam a responsabilidade pela mudança que queremos no mundo pós-corona.

Escuta-se muito por aí que “nada será como antes”, que teremos um “novo normal”, que “tudo vai mudar”. Mas o que vai mudar? Quem vai mudar? Como? Temos a conveniência de sermos protagonistas de uma nova era, cabendo a nós um posicionamento.

Planejar estrategicamente nunca foi tão necessário e devemos dispensar as velhas receitas que não trarão mais resultados. Planeje a curto, médio e longo prazo. E vá mudando de acordo com a “previsão do tempo”. Se você está atravessando uma tempestade, não pare. Simplesmente continue atravessando. Pois depois da chuva, muitas coisas novas irão brotar.

*softskills: é um termo em inglês usado por profissionais de recursos humanos para definir habilidades comportamentais, competências subjetivas difíceis de avaliar como criatividade, empatia, capacidade de resolver problemas.

Georgina Morelli Matos Consultora de Marketing