Se no final do Século XX a palavra empreendedorismo sequer aparecia nos dicionários brasileiros, desde então houve uma grande popularização do termo e uma evolução do seu ecossistema. Atualmente há diversas facilidades, recursos e instituições de apoio para quem pensa em abrir um negócio próprio. Ter conhecimento e saber usar o ecossistema só aumenta as chances de sucesso do negócio e há nova geração de empreendedores que sabe disso.

O primeiro elemento do ecossistema é o próprio empreendedor e o negócio que pretende criar. Há diversas classificações de empreendedores, mas é mais fácil entender o tipo de negócio que pretende criar, pois esta decisão o(a) levará para um ecossistema diferente.

O primeiro tipo de negócio é o de “subsistência”. Por mais que neguem, muitas pessoas abrem negócios próprios com o objetivo principal de garantir sua subsistência e da sua família. Em geral, são negócios que demandaram pouco ou nenhum planejamento prévio e não se observa nada inovador ou diferenciado na empresa e seus produtos e serviços.

Nestes casos, a empresa tende a competir em custo e/ou qualidade, mas devido à falta de planejamento, estas vantagens são frágeis e difíceis de garantir de forma recorrente. Por mais que seja numeroso, negócios de subsistência costumam não fazer parte do ecossistema de empreendedorismo, pois as pessoas que abriram negócios com este perfil sequer se consideram empreendedores e pouco acompanham o que acontece no cenário das micro e pequenas empresas. Aderir ao regime do Microempreendedor Individual e buscar apoio do SEBRAE são duas decisões praticamente obrigatórias para empresários que queiram migrar para os demais tipos de negócios.

O segundo tipo de negócio é aquele tenta oferecer algum “estilo de vida” para o empreendedor. São pessoas que querem montar um negócio próprio que não cresça muito a ponto de se tornar muito complexa a sua gestão, mas que sejam diferenciados ou inovadores e que ainda possam garantir certas liberdades pessoais para o empreendedor. Isto é bastante observado em empreendedores que decidem se aventurar em negócios gastronômicos “de autoria” como alguns restaurantes, firmas de consultoria, food trucks, negócios da moda e lojas de comércio eletrônico especializado.

Negócios assim pertencem a um ecossistema moderno que existe principalmente de forma virtual. São interações com outras empresas e empreendedores do setor, inclusive de outros países e mercados que servem como inspiração (sempre) e parcerias (eventuais). Muitas destas interações se transformam em amizades e comunidades. Além de outros colegas empreendedores, o ecossistema deste tipo de negócio também passa a incluir bancos (investimentos, empréstimos e financiamentos), consultores especializados (branding, estratégia, finanças, etc.) e parceiros (fornecedores, distribuidores, clientes-chave, etc.). Para deixar a empresa menos complexa tributariamente falando, muitos empreendedores optam por não extrapolar o limite de faturamento anual de R$ 3,6 milhões mantendo suas empresas no Simples.

O terceiro tipo de negócio é que almeja “crescimento orgânico”. São negócios que atém podem ter começado como de sobrevivência ou estilo de vida, mas que “deram muito certo” e que agora podem crescer em receita e/ou novas unidades. Muitos novos negócios já são projetados para crescerem de forma orgânica. Para isso, o empreendedor quase sempre planeja uma unidade ou iniciativa piloto para validar o conceito, mas já considera um esquema organizado de crescimento. A inovação é importante para este tipo de negócio, mas a padronização de processo, a gestão da qualidade e a força da marca são ainda mais relevantes. Todos os demais membros do ecossistema citados anteriormente estão presentes neste tipo de negócio, mas surgem novos que se tornam mais constantes como consultores de franquias, associações setoriais, mentores, advogados, bancos (financiamentos e empréstimos).

E ainda há um quarto tipo de negócio, que, em geral, é o mais desejado pelos novos empreendedores: os negócio de “rápido crescimento”. Quase todas as startups de tecnologia estão nesta categoria. E este é o ecossistema que mais se organizou nos últimos anos no Brasil. Para os iniciantes, há cursos de empreendedorismo oferecidos por quase todas as principais instituições de ensino, principalmente as escolas de negócio. O programa Inovativa Brasil oferece isto de forma online e gratuita. Também é possível participar de eventos de criação de startups como o Startup Weekend ou diversos hackatons promovidos por empresas como a Natura e AMBEV.

Se já tiver um protótipo, talvez seja o momento de buscar uma aceleradora. O programa Startup Brasil trabalha com as principais aceleradoras do país. Se já tiver um protótipo e algumas validações de mercado, quem sabe seja possível buscar recursos de investidores. A Anjos do Brasil reúne investidores anjos que têm feito primeiro aporte em negócios muito promissores. Há outras fontes de recursos que também podem ser solicitadas como o PIPE da FAPESP. E ainda há muitos eventos para negócios de rápido crescimento. Os meus preferidos são o Br New Tech, a Conferência Nacional da Anjos do Brasil e Conferência Brasileira de Venture Capital. Estes, eu faço questão de estar presente. É onde encontro pessoas que veem grandes problemas como grandes oportunidades. E neste momento atual, é a forma de continuar acreditando neste país!

Marcelo Nakagawa é professor de Empreendedorismo e Inovação do Insper e Diretor de Empreendedorismo da FIAP

(Fonte: PME Estadão)